Algumas práticas do circo em Santa Catarina atualmente: mapeamentos e indicadores

#PanoramaCircenseSC

Ana Paula Grigoli do grupo Dale Circo. Foto de Chris Mayer.

Uma demanda muito grande no setor é termos o levantamento frequente e contínuo de índices e indicadores sobre o setor circense no estado. Por muito tempo nossas políticas públicas e privadas se delineavam sem dados básicos da área. Isso vem se modificando desde 2003 com as movimentações para a implementação da Lei do Sistema Nacional de Cultura, e a criação do SNIIC – Sistema Nacional de Índices e Indicadores (hoje chamado Mapas.Cultura). Contudo, com a descontinuidade das políticas de registro, memória, leitura e monitoramento destes dados, esse sistema está praticamente parado. Ainda assim, importantes pesquisas e mapeamentos – nacionais e estaduais, com uma abrangência menor – vem sendo nossa única ferramenta de trabalho.  

Falando de mapeamentos e censos, no âmbito nacional, além da SNIIC, e dos Mapas Culturais (organizados pelo Instituto TIM), destaco aqui os censos do IBGE realizados entre 2007-2018, que foram os únicos a considerar mais profundamente as pautas culturais e refletir sobre o impacto do setor cultural e artístico na vida das comunidades brasileiras, e a pesquisa sobre públicos de cultura, realizada pelo Sesc em parceria com Fundação Perseu Abramo em 2013. O estrato da pesquisa do Sesc é bastante diferente do contexto catarinense, mas já serve de importante registro e parâmetro para nossas ações. Destaco também as ações do Observatório do Itaú Cultural, Centro de Pesquisa e Formação do Sesc São Paulo, e o Observatório da Realidade Organizacional da UFSC (catarinense).

Ainda falando do contexto nacional, importantes sites se tornaram espaço fundamental de estudo e registro do setor circense, são eles: Circonteudo – O portal da diversidade circense, Circo News, entre outros. Muitas publicações também servem como mapeamento (Anjos do Picadeiro, Doutores da Alegrias, entre outros) mas por hora vou me deter apenas aos portais. Estes espaços são fundamentais para nossa memória.

Portais de circo

Eles influenciaram também nas iniciativas catarinenses e serviram de inspiração, por exemplo, para a criação deste Portal do Circo Catarinense (organizado pela artista Cristina Villar). Pois faltava no contexto catarinense um espaço que abrangesse o circo de forma geral, com todas as suas multiplicidades e elementos. Um espaço, portanto, de mapeamento, registro, memória, publicações etc. Agora, falando do contexto catarinense, além das iniciativas já citadas, observo algumas pesquisas realizadas pelo Sebrae, Fecomércio, Fecam, que abordam tangencialmente o setor cultural.

Vale destacar os mapeamentos, índices e indicadores realizados pela Plataforma IDCult, nas parcerias com Sesc, FCC, Prefeitura de Florianópolis, entre outros. A plataforma possui várias sessões, além do recebimento de projetos e espaços de curadoria, ela permite fazer um levantamento de índices e indicadores desses materiais, bem como realizar mapeamentos personalizados. A iniciativa é de Florianópolis da empresa Trismegisto e é uma referência no país, sendo uma das poucas que possui tão completa abrangência e permite esse tipo de personalização nas pesquisas.

Ainda assim, observo que um dos maiores desafios do setor cultural como um todo é o registro frequente e continuado desses mapeamentos, pois na maioria das vezes são ações pontuais, que não possuem continuidade e pouco são publicizadas. Uma lacuna mais grave e ainda maior é a falta de análises, pesquisas, pessoas que se debrucem sobre esses dados e os estratifiquem, ou seja, gerem compreensões, indicações, relatórios desses materiais. Muitas vezes percebo que as pessoas desconhecem mapeamentos já realizados, e, na maioria das vezes minha análise deflagra que um esforço enorme é feito para realizar mapeamentos e receber respostas, contudo, depois do material levantado, pouquíssimas vezes vejo um esforço (financeiro e de recursos humanos especializados) para análise, diagnóstico e ampla publicização destes dados.

Noto que, com a pandemia de COVID-19 que, no Brasil, o setor vem enfrentando fortemente desde 2020, fomos atingidos principalmente pela falta de informações e mapeamentos do setor. Quando a pandemia “chegou” não havia material disponível suficiente e frequente para um diagnóstico do setor. Com isso fomos tomados por uma onda gigantesca de mapeamentos que foram realizadas por milhares de pessoas das mais diversas regiões – muitas vezes voluntárias, para tentar com urgência levantar um diagnóstico do setor. Sobretudo pesquisas que foram impulsionadas pela obrigatoriedade que a Lei Aldir Blanc impôs aos municípios e estados em aplicar os recursos somente mediante a um mapeamento local.

Circo Rakmer precisou encerrar as atividades em Criciúma devido a pandemia do coronavírus em 2020. Foto reprodução da NSC/TV.

Assim, destaco importantíssimas pesquisas estaduais pelo CEC-SC (mapeamento que, cabe destacar, apesar do esforço do CEC não foi colocado do ar até hoje), pela Fecate, Aprodança, Cinemateca Catarinense, além dos mapeamentos municipais como os da Setorial de Produção de Florianópolis (junto a Platafomra IDCult, CMPC e a prefeitura municipal), pela plataforma da empresa Dois Pontos: Una! (que aplicou a pesquisa em 23 cidades), e as diversas pesquisas realizadas com apoio da plataforma Mapa Cultural (que é diferente da SNIIC, vale observar), mas que boa parte foi perdida por falta de observação da Lei Geral de Proteção de Dados ou porque esta plataforma estava desatualizada e inativa (sem equipe para atualizações, já que ela foi criada num projeto a muito tempo e depois a equipe de gestão e programação foi dispensada).

Esta lista mostra que a “máxima” não temos pesquisas não serve mais. Participei de boa parte dessas pesquisas, direta ou indiretamente. E, agora, analisando esses dados, registro que os maiores desafios nas necessidades de gerar mapeamentos e análises para monitoramento contínuo do setor circense são: 1 – a falta de continuidade e frequência dessas pesquisas, de maneira sistematizada; 2 – a falta de leitura e análise desses materiais, e elaboração de indicadores, diagnósticos e proposições; 3 – a falta de publicização destes materiais (mesmo os dados crus, e os dados liberados pela LGPD); 4 – a falta de criação de redes e elos entre entes que estão interessados nos mesmos indicadores, e que juntos poderiam somar mais forças. Haja vista os exemplos da parceria da UFSC com o Ministério da Cultura na criação e implementação do Sistema Nacional de Cultura (como um todo), e também nas parcerias do Sesc em Santa Catarina, e da Fundação Catarinense de Cultura, com a Plataforma IDCult.

Nosso intuito aqui era registrar os espaços e iniciativas que contribuem para as análises do setor, como mapeamento e geração de índices e indicadores. Esperamos que em breve possamos publicar mais resultados desses materiais. E, por isso lhe fazemos um convite: se você fizer parte de alguma iniciativa que tenha algum material assim e queira publicar esses dados e análises em nosso Portal do Circo Catarinense fique à vontade. Este espaço também é para isso. Para registrar e refletir sobre nossas memórias e setor.

Livro Somos Palhaças, de Michelle Silveira da Silva, que apresenta algumas palhaças do Brasil. Arte de Miguel Vassali.

Hey, esquecemos de algum mapeamento ou pesquisa? Manda para nós! Neste texto fizemos um levantamento de diversos mapeamentos, plataformas, centros, pesquisas, registros, entre outros. Caso você conheça mais algum que esteja faltando aqui, manda para nós por email (portaldocircosc@gmail.com). A ideia é levantar esses dados, contamos com vocês.

Quer conhecer um pouco mais desses grupos e do circo em Santa Catarina? Dá uma espiada no mapeamento e publicações aqui no nosso Portal do Circo Catarinense para conhecer os artistas, grupos, escolas, produtores, técnicos que trabalham aqui no estado.

Faça parte dessa história! Se você for uma pessoa que trabalha com circo no estado faça já seu cadastro gratuito no nosso Portal e nos conte um pouco da sua história aqui: https://portaldocircocatarinense.com/thmaps-cadastro/