Algumas práticas do circo em Santa Catarina atualmente: circo de lona e malabarismos

#PanoramaCircenseSC

Uma das antigas lonas do Teatro Biriba

O olhar brincalhão do palhaço, a gargalhada das crianças, o gosto da maçã do amor, o cheiro da pipoca quentinha, o olho brilhando com a equilibrista, as mãos pressionando as orelhas durante a apresentação do globo da morte, a curiosidade sobre a vida sob rodas e trailers são algumas das memórias circenses que fazem parte do imaginário dos catarinenses. Elas nos inspiram ao trazer todo afeto e encantamento que a arte milenar do circo nos permite.

No Brasil os primeiros registros de atividades circenses que se tem notícia são do século XIX com a chegada dos europeus. Reuniam-se em guetos e se espalharam junto à comunidade cigana. Pelos estudos levantados na área sabe-se que, antes disso, os xamãs e curumins nas aldeias indígenas já encantavam suas comunidades com ritos cheios de brincadeiras e gargalhadas que segundo os estudos atuais também se relacionam com o circo.

Em Santa Catarina a tradição é muito longínqua e está permeada por artistas das mais variadas áreas como a palhaçaria, mágicos, trapezistas, malabaristas, equilibristas, circo de lona fixa ou mambembe, circo-teatro, e por aí vai. As atividades do circo no estado estão na memória das pessoas de maior à menor idade tanto como fruição quanto transmissão de um conhecimento milenar.

A tradição dos circos de lona, uma das mais antigas, foi se reinventando e resistindo as mudanças, sempre com muita garra e encantamento. O estado hoje tem cerca de 13 lonas itinerando por todas as mesorregiões, e pelo menos 3 lonas fixas. Os circos de lona catarinense se dividem em circos de variedades, teatro-circo, e também lonas junto à parque de diversões mambembe, entre outros.

Estes dados registram os grupos que reconhecem Santa Catarina como origem e trabalham muito por aqui, pois é sabido que a vida sobre rodas do circo de lonas faz estes grupos circularem também por muitas regiões do país e de fora. “Quando a praça é boa” os circos permanecem nas cidades por, aproximadamente, entre 6 a 8 semanas, e depois rumam para outros territórios. Imagine você toda mudança estrutural que implica ao deslocar grupos de 9 a 25 pessoas, com crianças, adultos, idosos a cada dois meses? Os desafios da vida sobre rodas certamente não são fáceis, ainda assim o estado ter 13 circos mambembes é um número muito expressivo e significativo. Ele mostra a força de reinvenção dos grupos, marca o carinho e a necessidade que o público catarinense tem para com a arte da lona.

É comum recebermos no estado circos mambembes que vem dos mais diversos lugares do país e do mundo, sobretudo da Argentina, que faz fronteira com SC, e do Uruguai, outro país próximo. Eles se espalham pelas diversas regiões do estado.  É através desse intercâmbio de grupos de diferentes locais que a tradição vai sendo passada na oralidade e na experiência do dia a dia. Desta forma as velhas e novas técnicas vão sendo repassadas de um artista para outro, e as composições coletivas vão criando vida, sendo aprimoradas, e formando uma tecnologia muito refinada, milenar, que vem sendo atualizada e que se tornou referência no meio.

A pesquisadora sobre circo Cristina Villar, que também é palhaça e produtora, publicou recentemente uma pesquisa registrando parte da memória sob a lona em Santa Catarina, a partir de entrevistas com alguns grupos. A publicação “A Tradição dos Circos de Lona Como Patrimônio Cultural” (VILLAR, 2022) pode ser acessada no link:  https://portaldocircocatarinense.com/2022/06/22/concluido-o-projeto-que-pesquisa-a-tradicao-dos-circos-catarinenses/ O material mostra como a tradição do circo de lona se tornou patrimônio cultural de Santa Catarina, fazendo parte dos costumes e da memórias das comunidades.

Entre os elementos circenses que vemos nas apresentações circenses em Santa Catarina notamos como a palhaçaria e o malabarismos tem ganhado cada vez mais força e se multiplicado pelo estado. Em ambas as práticas é comum assistirmos tanto artistas catarinenses, quanto argentinos, uruguaios, chilenos, e também de outras regiões do Brasil.

Dentro do malabarismo podemos encontrar as artes com clavas, bolas, bambolês, argolas, tochas, caixas, chapéus, pratos, facas, serras, bastões etc. E os desafios dos malabaristas aumentam com o equilibrismo em cordas bambas, tecidos aéreos, monociclos, pirofagia, entre outros. A “Convenção de malabarismo e circo de Florianópolis” ocorre a cada dois anos na capital catarinense e recebe artistas de todo país e do mundo. Este é um importante evento para a comunidade circense, pois além das apresentações abertas ao público, o espaço permite o intercâmbio de técnicas, práticas, elementos, diálogos que tem contribuído tanto para a formação destes artistas, que se dá muito mais na prática empírica, quanto para a própria articulação e organização do setor. O evento serve também de registro da memória viva do setor circense. Vale dar uma espiadinha para conhecer mais através do link: https://convencaocircofloripa.wordpress.com/

Foto de Chris Mayer
Foto de Cadu Scaramboni

Quer conhecer um pouco mais desses grupos e do circo em Santa Catarina? Dá uma espiada no mapeamento e publicações aqui no nosso Portal do Circo Catarinense para conhecer os artistas, grupos, escolas, produtores, técnicos que trabalham aqui no estado.

Faça parte dessa história! Se você for uma pessoa que trabalha com circo no estado faça já seu cadastro gratuito no nosso Portal e nos conte um pouco da sua história aqui: https://portaldocircocatarinense.com/thmaps-cadastro/